Confira a entrevista exclusiva com Carlos Bellé, da Coordenação Política da Editora Expressão Popular

FLIV-RIO: A Expressão Popular é nossa parceira no FLIV-RIO. A Editora tem se destacado pela escolha de temas que nos remetem à reflexão dos fatos políticos e sociais contemporâneos. Isso demonstra uma tendência editorial?
A Expressão Popular se mantém fiel aos seus propósitos de fortalecer ideologicamente a militância social brasileira em suas várias dimensões. Compreender as transformações do mundo contemporâneo e como isso interfere na construção de políticas, ferramentas organizativas e estímulo de lutas populares é determinante para nosso projeto editorial. Ao disponibilizar textos para a formação humana integral projetamos a nova sociedade que buscamos construir: mais humana, justa, equitativa, fraterna, social, política, democrática e econômica-ambientalmente sustentável. É a possibilidade da vida plena, sem as amarras do capital, que forjará o novo ser humano da sociedade do futuro. Não há saída pelo modo de produção e artimanhas do capital. E isso nos permite projetar o futuro, nossos sonhos e utopias.

FLIV- RIO: Quais livros a Expressão Popular vai disponibilizar ao público do Festival do Livro Vermelho?
Nosso catálogo conta com centenas de títulos. Para o FLIV levaremos uma seleção de ao menos 100 títulos, dentre diversas coleções e séries, dentro de nossos quatro eixos temáticos: agroecologia, pedagogia socialista, luta de classes contemporânea e os clássicos do marxismo. Em especial, iremos disponibilizar nossas mais recentes publicações de 2022, que compõem o acervo disponibilizado aos assinantes do Clube do Livro Expressão Popular – o nosso melhor lançamento mensal, realizado nos últimos 5 anos. Incluindo ainda o livro de Agosto: “Lula e a política da astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil”, que recupera a trajetória das lutas do ABC paulista e o surgimento do novo sindicalismo, narrado pelo brasilianista John D. French.

FLIV-RIO: Qual a expectativa da Editora Expressão Popular em relação ao mercado nos próximos anos. Podemos dizer que o brasileiro, mesmo em épocas de pandemia e crise econômica, está lendo mais?
De modo geral todas as editoras estão vivendo uma transição no mercado editorial marcado pela revolução digital. As principais mudanças estão relacionadas às técnicas de produção e editoração dos textos, à financeirização e formação de conglomerados editoriais, à forma de distribuição dos livros impressos ou digitais e às novas plataformas de leitura. Por outro lado, todos os dados do mercado editorial mostram certa estabilidade ou tendência de queda ou redução em alguns segmentos editoriais. Entretanto, o número dos leitores tem se mantido estabilizado. Certamente que tanto o livro impresso quanto o digital vão conviver por longo tempo, mas estamos vivendo tempos de mudanças profundas quanto às formas de leitura – com novas linguagens, nova base de estruturação do discurso argumentativo – formada a partir de metadados estruturados a partir do comportamento do leitor em suas redes sociais. Teremos um leitor especialista em um determinado tema ou um leitor universal, com capacidade de decidir e acessar o que de melhor a humanidade disponibiliza? Qual a capacidade de acesso aos bens espirituais terá este leitor do amanhã, já vivenciado hoje?

FLIV- RIO: Como venceremos o desafio de proporcionar mais acesso dos leitores aos livros?
São vários os fatores que influenciam diretamente na formação de leitores. Sem um projeto político que vise a formação de uma sociedade humanamente desenvolvida que perpassa toda a educação básica até a universitária. Isso só vimos em países que passaram pela experiência diversa do socialismo, com a universalização do acesso à educação. Portanto, só em uma nova forma de sociedade é que o acesso ao livro e à leitura será universal como política de Estado. No cotidiano, todo o esforço possível por parte das editoras é bem-vindo. Passam pela definição editorial capaz de contribuir para a formação das gerações atuais de modo mais crítico, criativo, capaz de superar as mazelas da pobreza cultural cotidianamente construída pela sociedade até as inúmeras iniciativas de apresentar aos leitores os benefícios da leitura. O caminho mais curto é o de possibilitar o acesso ao livro no local de vivência do leitor. Quanto mais perto dele a produção editorial puder chegar, melhor. Este é o local onde há o encontro e a troca entre as Editoras e os leitores. E aqui reside um dos pilares para vencermos o desafio do acesso aos bens culturais produzidos.