Qual o papel da arte na luta política? Como as diversas manifestações artísticas estão sendo usadas, pelos diferentes espectros políticos, para mobilizar ou conscientizar. Faixas, máscaras, memes, intervenções, o uso das cores como identificação, o corpo como manifesto, performances, palhaçaria, grafite, flash mob. São diversos elementos presentes nas manifestações, escolhidos estrategicamente para transmitir mensagens, mostrando que arte também é tática.
Ana Lucia Pard, atriz, professora e gestora cultural, apresentou os resultados de sua pesquisa sobre a militância artística e suas variações nas ruas, a partir de 2013 até os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023, tanto de direita quanto de esquerda. “Cada vez mais, a política está sendo espetacularizada, usando elementos de teatro, da cena, para conquistar e envolver o eleitorado”, comenta, citando Vladimir Safatle “não há política sem corpo. Precisamos pensar no corpo político”.
Alexandre Lambert, ator, cenógrafo e escritor, lembrou que tudo o que envolve o ser humano, tudo o que não é natureza, é cultura. Ele lembrou das medidas deliberadas do governo Bolsonaro para destruir as políticas e equipamentos culturais brasileiros, e de como o neoliberalismo detesta a arte. Ressaltou ainda a necessidade de furar bolhas e ampliar os públicos progressistas.
A atriz Lúcia Farias fez um relato pessoal sobre como passou a perceber a conjuntura, a situação ao seu redor e as questões das comunidades que frequenta, a partir da participação no grupo Militantes em Cena. De como a arte engajada retirou a venda de seus olhos a respeito das desigualdades e aguçou seu senso crítico.
A partir das intervenções da plateia, novas questões foram levantadas, como o cuidado com a apropriação cultural, os momentos de militância ou a necessidade de uma militância artística que não fique restrita ao período eleitoral, assim como a consolidação da ideia de luta conjunta, da construção coletiva de alternativas para o Brasil. No encerramento da mesa, houve a apresentação da esquete “A classe média no espelho”, baseada em texto do sociólogo e escritor Jessé Souza, e encenada pelo grupo de teatro Militantes em Cena.