ESPIONAGEM E DITADURA MILITAR

Diante dos recentes ataques à democracia, debater o golpe militar que completa 60 anos em 2024 é cada vez mais necessário. O livro “Cachorros: a história do maior espião dos serviços secretos militares e a repressão aos comunistas até a Nova República”, do jornalista Marcelo Godoy, é um estímulo importante nesta discussão e foi o tema de uma mesa do FLIV Rio nesta sexta-feira (29/11).

“Cachorros” conta a história do agente Vinícius, nome de guerra de Severino Deodoro de Mello, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cooptado pelos militares. No papel de espião, contribuiu efetivamente para prisões, desaparecimentos e mortes que desmantelaram o partido. Godoy contou sobre o processo de pesquisa e de como alinhavou a trajetória do personagem principal à história do Brasil naquele período.

Pedro Celestino, que militou contra o golpe e é ex-presidente do Clube de Engenharia, e participou do debate pontuou que, em vários momentos da história do Brasil, considerou que houve intervenções políticas a serviço de interesses internacionais e destacou o papel dos comunistas brasileiros na resistência, o que os tornou um alvo potencial durante os anos de chumbo (1964-1985).

A mesa foi mediada pelo coordenador geral do Sinttel-Rio, Luis Antônio Silva, que ressaltou as consequências da forma como o Brasil lidou com seu passado ditatorial: “Passamos pela redemocratização sem acerto com o que foi feito em 64. Nenhum militar foi preso ou responsabilizado. Isso tem conexão com o que estamos vivendo hoje, com roteiros muito semelhantes da atuação do chamado ‘inimigo interno’.

Marcelo Godoy encerrou o debate afirmando a importância do FLIV-Rio: “A luta pela democracia é um processo contínuo. Por isso é tão importante haver espaços como este em que podemos debater e refletir”, afirmou.