A roda de conversa trouxe o tema do cuidado com a saúde da classe trabalhadora pela visão dos profissionais de Serviço Social. As assistentes sociais Isis Ferraz, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, Martha Fortuna, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Meiryellem Valetin, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Monica Olivar, da Fundação Oswaldo Cruz, apontam um cenário de profundas mudanças no mercado de trabalho, com o trabalho mediado pela tecnologia de comunicação e informação, assim como indústria 4.0, robótica, inteligência artificial, que tem jogado os trabalhadores para o desemprego, o subemprego, informalidade. Esses impactos são sentidos também pelos assistentes sociais, nos distintos serviços de saúde laboral. A discussão proposta por elas virou um livro, também lançado no Fliv-Rio.
“O artigo que escrevi para o livro, por exemplo, é justamente sobre os acidentes de trabalho na Fiocruz, a partir dos processos de terceirização e da reforma trabalhistas aprovada no governo Michel Temer. A perda de direitos experimentada a partir de 2016 vem impactando a saúde desses trabalhadores”, conta Monica Olivar. Os acidentes de trabalho também foram discutidos a partir de um recorte de gênero e raça, “Em qualquer campo, quem mais se acidenta no trabalho são as mulheres negras, é preciso que estejamos atentas a isso e refletirmos como nós, assistentes sociais, podemos intervir”, completa Monica.
Isis Ferraz levanta outro ponto importante, principalmente pós-pandemia de Covid-19: a saúde mental. “A questão do adoecimento mental do trabalhador perpassa todos os artigos do livro, é um indicador importante. Entendemos que a luta não é individual, assédio, adoecimento, a gente não precisa dar conta sozinha, buscar provas, constituir advogado. Então, a partir da troca com nossos colegas, da sindicalização, o caminho pode ser mais produtivo”, conclui.
Foi uma conversa na qual as assistentes sociais se incluíram como parte da classe trabalhadora e analisaram seus desafios de buscar seu próprio bem-estar, enquanto profissionais. “É uma lacuna da profissão essa intervenção dos assistentes sociais, que estão ali nas instituições públicas e privadas, atendendo todos os dias, junto aos trabalhadores. Como está o trabalho desses profissionais para a classe trabalhadora, a qual também pertencemos. Achamos importante trazer as condições de trabalho precarizadas às quais nós também estamos submetidas. A gente não está em uma condição diferente”, afirma Martha Fortuna.
Meiryellem Valentin reforça a importância do livro de olhar para a saúde do trabalhador e da trabalhadora, a partir do olhar das assistentes sociais. “O grande diferencial que a gente tem é entender a questão social, a questão do direito e o que ele pode acessar. Não pensar a saúde pelo aspecto apenas biológico, mas biopsicossocial, entendendo todas as esferas que envolve o trabalhador”.